Sobre perdas, experiências e outras coisas que não sei definir

As pessoas vão embora. Real. 
Perdas são reais, desencontros mais reais ainda. Por aqui? Encontro-me bem.
É meio desagradável pensar que muito do exercício constante do amadurecer está relacionado com conseguir sintetizar essas coisas dentro da gente. É desagradável porque nós somos sempre relutantes em admitir nossas fragilidades.
De forma mais íntima, aqui falo por mim. 
Amo gente. Sou dessas pessoas que se relaciona com as outras sem medo de mergulhar. Nunca sei o que vem depois, mas é bom demais não saber. O coração não abri pouco, escancarei logo de uma vez. E gosto assim.
Quando eu era moleque, parecia que aquelas pessoas que estavam ali em volta iam durar pra sempre. Não duraram, umas permanecem até hoje mesmo mais distantes. A gente cresce, os horários não batem mais, as obrigações mudam, cada um fazendo o seu porque a vida cobra rápido. O carinho permanece o mesmo, a rotina que não.
Aos 15, apaixonei-me pela primeira vez. Tudo escondido porque se descobrir viado tem dessas. Foi gostoso, foi uma época em que me senti menos deslocado. Era um momento meu, de curtir a mim mesmo e aquela novidade toda. Foi quando eu aprendi a estruturar meu amor, criei minha própria experiência de como era amar alguém do mesmo sexo que eu. A gente que é homossexual não tem referências. Construímos do zero, é doloroso, deixa marcas, mas valeu a pena cada reflexão. Durou 6 meses. Acabou e eu tive que aprender a resgatar o que eu era antes. O eu-não-apaixonado-por-um-cara-mas-apaixonado-pelo-resto-das-coisas. Resgatei.
Aconteceu de novo aos 18, dessa vez não foi correspondido. Diferente da primeira vez, aprendi a cultivar meu amor próprio, pelo menos um pouquinho. Gostar de mim antes de gostar de alguém. Transformei.
Aos 20, me apaixonei por um sorriso. O sorriso virou rosto que virou corpo que virou um moço encantador. Nunca brigamos. Hoje nos falamos pouco, eu diria quase nunca. A vida tem dessas também. 
Depois aos 22. Coisa rápida, audaciosa, me entreguei de uma vez. Um dia, acabou. Talvez ele tenha seguido em frente mais rápido que eu, não sei. Eu quebrei a cabeça um pouco, foram alguns dias voltando pra casa em silêncio, escondendo as lágrimas e tentando lembrar do que eu aprendi nos últimos anos.

Eu queria ter alguma reflexão mais espirituosa pra fazer ao fim disso tudo. Não acho que tenho.
Aprendi que de todas as coisas que a gente constrói ao longo da vida, cuidar de nós mesmos talvez seja a mais importante tarefa (e a mais difícil também). Mas continuamos tentando construir algo que seja legítimo pra gente, partindo das nossas experiências.

E lembrar que as pessoas vão embora. 
Lembrar que nós somos frágeis.
Lembrar que erramos.
Lembrar que os outros erram.
Lembrar que nem tudo é culpa nossa.
Lembrar de cada experiência construída.
Lembrar da gente.

Lembrar da gente. Nunca se perder de vista. Voltar o olhar pra dentro. Sempre lembrar disso. Sempre.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

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