Você perguntou se eu sabia me perder e eu disse que sim, com muita certeza. “Sabia que eu sou desses que se perde com frequência? O tempo todo mesmo. Gosto tanto que me perco tentando me perder, me perco nas horas, me perco em mim.” Dia desses eu quis saber se você curtia poesia e você fez cara de paisagem (como dizem as pessoas), mas paisagem diz muitas coisas e você disse que a poesia era eu, era você e era o chiclete que você mascava e que mudava um pouco a sua paisagem. Nesse dia, você ficou minutos ou horas, não lembro e nem importa tanto, mas você ficou minutos ou horas cantando o mesmo pedacinho de música. Acontece que eu cheguei em casa e digitei o pedacinho num site de busca com meu inglês todo errado, mas achei. Fiquei ali horas escutando a mesma música, horas sim, isso me lembro bem e importa, e toda vez que o player zerava a contagem que marcava a duração da música, eu lembrava do chiclete que grudava e desgrudava dos seus dentes. No pedacinho que você cantava, eu juro que conseguia ouvir tua voz na cabeça, não de um jeito virtual, mas real demais, real do tipo voz-da-música-vira-tua-voz. O outro dia amanheceu quente, não por coincidência, não acredito em coincidência nenhuma, mas aquele filete de sol entrou pela minha janela e formou aquela figura estranha no meu colchão. Aí eu lembrei de você, do chiclete que mudava sua cara de paisagem e daquele sorriso idiota que você forçava na minha cara, sempre de supetão (como dizia minha mãe) . Verdade, você disse que isso também era poesia.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

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