Gotas

Nem se tentasse explicar sua aerofobia, ele conseguiria. Nem caso se esforçasse muito, nem assim daria certo. Mesmo assim, em dias de chuva, ele sempre subia até o telhado de casa. Saía pela janela e com muito esforço chegava lá todo molhado e com os fios de cabelo gotejando os resquícios do trajeto. Ficava em pé durante longos minutos, bem no centro do telhado onde era plano e isso o ajudava a controlar o medo. Permanecia ali escutando os sons do mundo, sentindo a chuva gelada contrastar com a pele quente e o batimento cardíaco acelerado. E assim continuava...

Dos bons ventos que cruzavam seus pensamentos, um deles era sobre a paciência com que a chuva caía. Para ele, era intrigante a ideia de que uma quantidade tão grande de água acumulada nos céus caísse com tanta calma, de maneira distribuída sob a forma de pequenas gotas. E que gotas receptivas eram aquelas. Tudo isso porque a chuva fazia com que ele ficasse pensativo, até mais do que gostava. Incomodava-o o fato de que ele próprio não possuía tal paciência.
Vez ou outra, algum barulho dentro de casa lhe chamava a atenção por um ou dois segundos antes de voltar-se novamente a tarefa que tanto lhe fazia bem.
Era ali que ele se sentia dono de si e de suas convicções, destemido e astuto o suficiente, sentia-se flutuando e amava tudo aquilo.
Nem se tentasse explicar o que sentia, ele conseguiria. Nem caso se esforçasse muito, nem assim daria certo. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

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