Pássaros

Ele aprendeu a escutar o canto dos pássaros e entender a complexidade do seu som. As vezes gostava de acompanhar a melodia com a sua própria voz e gesticulava sensivelmente como um maestro imerso, imerso naquela atividade, naquele sentimento. Sentia-se atraído pelos sons distintos, mas não conseguia parar de olhar pro céu e buscar por novos cantos, outro farfalhar de asas e aquele característico som produzido pela movimentação de algo que passa rapidamente por você.
Todo dia era a mesma coisa, ele voltava pra casa e tentava explicar para os seus pais o porquê de sua demora. Sempre uma mentira nova, uma desculpa pra sanar a impressão que ele tinha de que ficar uma hora escutando pássaros era algo idiota. No outro dia, lá estava ele de novo... De quando em quando, ficava um pouco triste, sentia-se sozinho por não poder compartilhar desse hábito que o engrandecia. 
Parecia mais uma dia comum, ele deitou no extenso gramado, fechou os olhos e procurou desligar-se do ambiente que o rodeava. Começou a ouvir os seus favoritos cantos (havia decorado alguns deles), outros diferentes, até mais novos jurou escutar. Algo estranho cruzou sua audição, um som mais sólido, mais melódico e mais próximo. Isso fez com que ele abrisse os olhos e começasse a procurar a origem do som. Um pouco longe, uma mulher cantarolava uma melodia infantil e nostálgica e ele passou a observá-la, embora só pudesse ver suas costas. Ele escutou com atenção e entendeu. Conseguiu compreender a angústia, a saudade e ao mesmo tempo uma gratidão que se espalhava e tentava abraçar-lhe com ternura. Mesmo com um pouquinho de receio aproximou-se devagar, um pouco hesitante e bebendo daquela ode.
Quando estava lado a lado com a mulher, surpreendeu-se ao notar que era sua mãe que sorria e continuava a cantar ainda mais intensamente, enquanto lágrimas lhe brotavam dos olhos. Subitamente, ele a abraçou e ela retribuiu com amor e ternura. Ao fim da canção, ela nada lhe disse, tampouco ele. Tudo o que fez, foi tomar as mãos de sua mãe e levá-la para conhecer os pássaros e seus cantos, aqueles que o encantavam, que eram seu refúgio. Então ficaram lá por vários minutos, ele lhe contava tudo e ela escutava atentamente. Já não precisava esconder nada, muito menos sentir-se idiota. Podia compartilhar seu hábito, sua alegria e seu amor. 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

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